A sentença do Tribunal de Cassação n. 17918, proferida em 28 de abril de 2023, representa um importante ponto de referência para a compreensão do crime de concussão. A decisão baseia-se num caso em que o arguido, A.A., foi condenado por ter exercido pressões sobre os titulares de atividades comerciais em conexão com funcionários públicos da Guarda de Finanças. Examinemos os principais aspetos desta sentença e as suas implicações legais.
Um elemento central da sentença é a aplicação do princípio da "dupla conformidade", que ocorre quando as decisões de primeira e segunda instância se unem numa argumentação coesa. O Tribunal sublinhou que não é necessário um exame aprofundado de cada dedução, mas é suficiente uma avaliação global das provas. Este princípio é fundamental para garantir a estabilidade das decisões jurídicas.
O juiz do recurso não é obrigado a realizar uma análise aprofundada de todas as deduções das partes e a examinar detalhadamente todos os resultados processuais.
No caso em apreço, A.A. foi acusado de ter coagido dois empresários a prometer dinheiro e a entregar bens, ameaçando com fiscalizações por parte da Guarda de Finanças. O Tribunal confirmou que o papel de A.A. era o de "exercer pressão" sobre os titulares das atividades, criando um estado de sujeição. É importante notar que a concussão pode ser configurada mesmo na ausência de um funcionário público direto, desde que haja um comportamento colusivo.
O terceiro motivo de recurso dizia respeito à não concessão das atenuantes genéricas. O Tribunal esclareceu que a simples ausência de antecedentes criminais não é suficiente para obter atenuantes; o comportamento processual do arguido, caracterizado por declarações incoerentes, pesou negativamente. Esta posição do Tribunal parece seguir uma orientação mais recente, que distingue entre a ausência de responsabilidade e a avaliação da conduta processual.
A sentença n. 17918 de 2023 reiterou a severidade das medidas contra o crime de concussão e a necessidade de um comportamento colaborativo por parte do arguido. A importância da motivação nas decisões judiciais é evidente e o Tribunal esclareceu como a conduta do arguido pode influenciar o desfecho do processo. Este caso serve de alerta para todos aqueles que operam no campo do direito, sublinhando a importância da transparência e da correção nas interações comerciais e nas relações com as autoridades públicas.