A sentença n.º 14953 de 2024 representa um importante passo em frente na jurisprudência italiana relativamente aos crimes de incitamento a práticas de pedofilia e de pedopornografia. O Tribunal sublinhou a necessidade de considerar o requisito do perigo concreto, um aspeto fundamental para a configuração de tais crimes. Neste artigo, analisaremos os pontos salientes da sentença, esclarecendo o significado jurídico do perigo concreto e as implicações para o uso das redes sociais.
O crime de incitamento a práticas de pedofilia é regulado pelo artigo 414 bis do Código Penal italiano. Trata-se de um crime que não só pune a conduta de quem incita atos deste tipo, mas também exige a avaliação da concreta potencialidade de tal incitamento gerar comportamentos ilícitos. A sentença em apreço esclarece que para configurar este crime é necessário um juízo 'ex ante', ou seja, uma avaliação baseada nas circunstâncias e nas condições previsíveis no momento da ação.
No caso específico tratado pela sentença, o arguido publicou um post no Twitter que incitava a uma agressão sexual contra menores. O Tribunal destacou a elevada potencialidade difusora da mensagem, que ia além dos 241 seguidores da conta do arguido. Este aspeto é crucial, pois evidencia como as redes sociais podem amplificar e difundir mensagens perigosas de forma exponencial. O uso de uma linguagem evocativa da esfera sexual agravou ainda mais a situação, tornando a mensagem particularmente insidiosa.
Crime de incitamento a práticas de pedofilia e de pedopornografia - Requisito do perigo concreto - Necessidade - Verificação - Critérios - Facto. O crime de incitamento ou apologia a práticas de pedofilia e de pedopornografia é um crime de perigo concreto, que exige a efetiva idoneidade da conduta para induzir outros à prática de crimes análogos aos incitados ou dos quais se fez apologia, cuja verificação deve ser efetuada com juízo 'ex ante', inquestionável em sede de legalidade, tendo em conta a situação que se apresentava ao agente no momento da prática dos atos, com base nas condições previsíveis do caso concreto. (Facto relativo à publicação de um 'post' na 'rede social Twitter' incitando a uma agressão sexual contra crianças, em que o Tribunal vislumbrou a elevadíssima potencialidade difusora da mensagem mesmo para além dos 241 'seguidores' que acompanhavam a 'conta', cuja denominação era, aliás, evocativa da esfera sexual).
A sentença n.º 14953 de 2024 enfatiza um aspeto crucial da luta contra a pedofilia e a pedopornografia: a necessidade de uma atenta avaliação do perigo concreto em relação às condutas instigadoras. A interpretação do Tribunal oferece um importante ponto de reflexão para juristas e operadores do direito, especialmente numa época em que as redes sociais podem funcionar como amplificadores de mensagens perigosas. É fundamental que a justiça se adapte às novas realidades sociais, garantindo uma proteção eficaz para os mais vulneráveis.