A recente sentença n. 33822 de 2023, emitida pela Corte de Cassação, aborda um tema de grande atualidade e relevância social: o crime de favorecimento da imigração clandestina. Esta decisão insere-se num contexto normativo complexo e controverso, no qual o direito penal se interliga com questões humanitárias. Analisemos, portanto, os pontos chave desta sentença e as suas implicações.
A Corte confirmou o princípio segundo o qual o motivo humanitário não pode excluir a configuração do crime de favorecimento da imigração clandestina. Em particular, a máxima da sentença reza:
Delito de favorecimento da imigração clandestina - Motivo humanitário - Relevância - Exclusão - Razões. Em tema de imigração clandestina, não tem qualquer relevância, para efeitos de excluir a configuração do delito de favorecimento da imigração ilegal, o motivo humanitário contemplado apenas na hipótese disciplinada pelo segundo parágrafo do art. 12 do d.lgs. 25 de julho de 1998, n. 286, relativa às atividades de socorro e assistência prestadas em Itália a estrangeiros em condições de necessidade no território do Estado cujo ingresso ilegal já se tenha concretizado.
Esta afirmação é particularmente significativa, pois esclarece que o motivo humanitário, embora possa parecer justificativo, não pode de forma alguma atenuar a responsabilidade penal de quem facilita o ingresso ilegal de estrangeiros no nosso país.
As implicações desta sentença são múltiplas. Por um lado, reafirma-se a necessidade de respeitar a lei em matéria de imigração, por outro, levanta-se um debate ético e jurídico relativamente ao tratamento dos estrangeiros e às atividades de socorro. É importante considerar que:
A Corte, invocando o art. 12 do d.lgs. 286/1998, sublinha que as atividades de assistência podem ser justificadas apenas em circunstâncias específicas, aquelas em que o ingresso ilegal já ocorreu e não houve qualquer facilitação no momento do ingresso.
Em conclusão, a sentença n. 33822 de 2023 representa um importante passo na jurisprudência italiana relativamente ao crime de favorecimento da imigração clandestina. Esclarece que, apesar das boas intenções, o motivo humanitário não pode justificar atos que violam a lei. É fundamental que quem opera no setor do socorro e da assistência humanitária esteja ciente das implicações legais das suas ações, para evitar incorrer em responsabilidades penais. A questão permanece aberta e merece uma análise aprofundada por parte de todos os atores envolvidos na gestão do fenómeno migratório.