A recente Ordem n.º 9731 de 10 de abril de 2024 oferece uma reflexão importante sobre a natureza das obrigações contratuais e as consequências que delas decorrem em caso de não cumprimento das condições suspensivas. Em particular, o Supremo Tribunal de Cassação abordou a questão do enriquecimento sem causa, estabelecendo alguns princípios fundamentais que merecem ser analisados com atenção.
Na situação examinada, o Tribunal declarou que, no caso de cumprimento espontâneo de uma contraprestação de uma obrigação de pagamento sujeita a uma condição suspensiva não realizada, é possível propor uma ação de enriquecimento sem causa. Este princípio baseia-se na ineficácia ab origine do título contratual, que priva de justificação a atribuição patrimonial em favor do contraente que cumpriu.
Em caso de cumprimento espontâneo da contraprestação de uma obrigação de pagamento sujeita a condição suspensiva mas não realizada, é possível propor a ação de enriquecimento sem causa em razão da ineficácia ab origine do título contratual, que torna desprovida de justificação a atribuição patrimonial por facto não imputável ao contraente adimplente. (Na espécie, o S.C. cassou a sentença de mérito que, constatado o não cumprimento de uma das condições suspensivas a que o contrato estava subordinado, havia rejeitado o pedido de cumprimento proposto em via principal e declarado inadmissível a ação de enriquecimento, proposta em via subsidiária, constatando a existência, entre as partes, de um contrato válido, ainda que ineficaz).
Este orientação jurisprudencial tem relevantes implicações práticas para as partes envolvidas em contratos sujeitos a condições suspensivas. Em particular, destacam-se alguns pontos chave:
Em resumo, o Supremo Tribunal de Cassação esclareceu que a ineficácia do contrato, decorrente do não cumprimento de condições suspensivas, não impede a possibilidade de recuperar quantias pagas, fazendo referência ao enriquecimento sem causa. Este aspeto representa um importante instrumento de tutela para as partes que se encontram em situações contratuais complexas.
Em conclusão, a Ordem n.º 9731 de 2024 confirma a importância de uma correta interpretação das obrigações contratuais e dos direitos das partes em caso de condições suspensivas. É fundamental, para quem opera no mundo do direito, ter em conta estes princípios para gerir da melhor forma as suas posições contratuais e para evitar incorrer em enriquecimentos sem causa em detrimento de outros. A orientação do Tribunal representa um passo em direção a uma maior equidade nas relações contratuais.