A recente Ordem n. 10325 de 16 de abril de 2024 do Tribunal de Cassação oferece importantes esclarecimentos sobre a questão da competência jurisdicional em matéria de rescisão de sociedades transformadas. Esta decisão revela-se crucial para todos os que operam no setor das sociedades de capital e para os profissionais do direito, pois delineia com precisão os limites da competência entre as secções especializadas em matéria de empresa e as outras jurisdições.
A controvérsia tem origem no pedido de um sócio que rescindiu, M. P., que solicitou a liquidação da sua quota a seguir à transformação da sociedade. O Tribunal estabeleceu que o direito à liquidação da quota não está diretamente ligado à relação societária, mas sim que se configura como um direito de crédito. Esta distinção é fundamental para compreender as razões da competência jurisdicional.
Em geral. A controvérsia que tem por objeto o direito à liquidação da quota do sócio que rescindiu, a seguir à transformação da sociedade, por não estar ancorada na relação societária ou nas participações sociais, mas num mero direito de crédito, não entra na competência da secção especializada em matéria de empresa, pois a rescisão é um ato unilateral receptício que, uma vez comunicado, determina a perda do estatuto de sócio e do direito aos lucros, independentemente da liquidação da quota que não constitui uma condição suspensiva, mas uma consequência estabelecida pela lei.
Esta máxima esclarece que a rescisão de um sócio, uma vez comunicada, gera efeitos imediatos na sua posição dentro da sociedade, incluindo a perda do estatuto de sócio e dos direitos a ela associados. A liquidação da quota, portanto, não constitui uma etapa preliminar a tais efeitos, mas é antes uma consequência automática da rescisão.
As implicações desta sentença são múltiplas:
A sentença insere-se num contexto normativo mais amplo, evocando diversas disposições, incluindo o Decreto Legislativo n. 168 de 2003 e as normas do Código de Processo Civil, que disciplinam em detalhe as modalidades de rescisão e as respetivas consequências. Tais referências normativas reforçam a posição do Tribunal, oferecendo um fundamento jurídico sólido às suas conclusões.
Em conclusão, a ordem n. 10325 de 2024 representa um importante ponto de referência para a jurisprudência em matéria de direito societário. Com uma leitura atenta da sentença, profissionais e empresários podem adquirir uma maior consciência relativamente aos seus direitos e deveres em caso de rescisão de uma sociedade. A clareza sobre os limites da competência jurisdicional e a natureza da rescisão oferecem uma orientação valiosa para enfrentar eventuais litígios futuros.