A recente Sentença n.º 29530 de 28 de maio de 2024 da Corte di Cassazione oferece uma importante reflexão sobre os limites do crime de fuga, em particular no que diz respeito às pessoas em regime de prisão domiciliar. A decisão da Corte anula uma condenação por fuga, estabelecendo que uma parada ao longo do percurso autorizado não constitui, por si só, um crime, desde que não haja desvios significativos do trajeto e que a intenção não seja a de evadir a vigilância.
Na hipótese, o arguido, V. C., tinha autorização para se deslocar ao SERT, centro para dependências, mas durante o trajeto parou para comprar substância estupefaciente. A Corte, avaliando a situação, estabeleceu que, apesar da parada, não houve intenção de fuga, pois não foram efetuados desvios significativos do percurso permitido.
Não configura o delito de fuga a conduta de quem, autorizado a deixar a residência onde se encontra detido em regime de prisão domiciliar com o fim de alcançar um local determinado, efetua uma parada por razões diversas das que fundamentam a autorização, sem desvios significativos do percurso e sem a finalidade de evadir a vigilância. (Na espécie, a Corte anulou a condenação imposta ao recorrente por ter parado ao longo do trajeto de retorno do SERT, para onde tinha autorização para se deslocar, com o fim de comprar substância estupefaciente).
Esta sentença tornou claro um aspecto fundamental da normativa penal italiana em relação à fuga. Segundo o artigo 385 do Código Penal, o crime de fuga configura-se quando há um afastamento não autorizado da prisão domiciliar. No entanto, como confirmado pela Corte, tal crime não se configura no caso de paradas justificadas por motivos diversos, desde que não haja desvios significativos do percurso estabelecido.
Em conclusão, a Sentença n.º 29530 de 2024 representa um passo significativo na jurisprudência relativa à prisão domiciliar e ao crime de fuga. Ela sublinha a importância de interpretar as normas de forma equitativa, respeitando os direitos dos detentos e as finalidades da pena. Esta decisão oferece também reflexões sobre as políticas de reinserção social e a adequação das medidas de detenção em um contexto de crescente atenção aos direitos humanos.